segunda-feira, agosto 27, 2007

René Magritte, La Clef des Songes, 1930.

Para que sonhar com mais amar
no azul do mar infinito
se os sucessivos desconvidados dias
as águas vêm evaporar?

Para que sonhar com o livro aberto
na página querida
se o implacável verdadeiro vento
à sua maneira o folheia?

Para que sonhar com as crianças
brincando infantis nos campos gramados
se o inexorável impiedoso tempo
as traz agora maduras?

Sonhar é vão...
Porque entre sonho e verdade há um
trevoso intransponível vão.
Porque sonhos não são e nunca serão.
Porque sonhos são idéias e
idéias não descem ao chão.

Só o que há é realidade
e sonhos não há.
Então, para que sonhar e sonhar e sonhar
e doer por esquecer de viver o que há?

De esta noite em diante
sonharei apenas com um sonho doce rebelde
que contrarie a natureza dos sonhos,
que irrompa no mundo rompendo
o grosso tecido separador dos espaços,
que não mais queira ser sonho e seja.
E assim, faça que vivam infâncias, histórias, amores.



E, veja, papai sempre dizia:
"Tens que ter os pés no chão, minha filha!"
Ave Santa Teimosia!

quarta-feira, maio 30, 2007

FORA DO AR


Fora do ar
Fora do chão
Por ora
Sem previsão


Porque pedaço flutua
e metade procura

sexta-feira, abril 20, 2007

Enquanto caem
as folhas contemplam
o horizonte do amanhã

segunda-feira, abril 09, 2007

Outro dia vi coisas
de tanto cheirar
as folhas

dos livros novos

domingo, abril 08, 2007

Páscoa*

Ah! Eu também quero ressuscitar.
E depois comer muito
Chocolate...
Até não agüentar

Eu quero muito ressuscitar.
Mas antes,
alguém tem
que me matar

Pascoal é um moço
da rua de baixo
que só anda armado

Um dia crio coragem
e lhe peço:
Me mata, Pascoal!
Pra eu ressuscitar.

Não sei se Pascoal
vai ter
coragem de fazer,
mas eu vou ter que ter

Porque eu quero ressuscitar!
Então, alguém
vai ter

que me matar.


*Com pequenos cortes. Pra sangrar menos.


terça-feira, abril 03, 2007

Bom e feito

Estranho que hoje
Um estranho sorrir
Tenha feito chorar

quinta-feira, março 08, 2007

Fantasia

Veste-te de outra
pessoa
que pensas
que não és

Fantasia.
Álibi do
teu instinto



Não era para ser nada pro dia da mulher. Coincidiu a data. Fica sendo, então.
As discussões sobre a mulher e seu papel et cetera, deixo pros intelectuais. Só desejo felicidades.

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Adubo.
Rego-me.
As flores que se floram.

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Som sentido

Silêncio!
Escuto passos na escada
A cada passo alguém desce
Parece
que esquece a porta aberta
que bate com o vento

Silêncio!
Percebo risadas na sala de estar
Estúpida alegria que exala
Estaca
no peito vampiro
que nunca bebeu gota de sangue

Silêncio!
Ouço sussurros no porão
Porém não há alguém
Além
do espelho espesso do pó
do passado da janela

Silêncio.

Apenas o som
De um coração quieto

batendo lento com o vento
num peito vampiro
espesso de pó

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

A corda

O homem, comum que só ele, resolveu experimentar de equilibrista. E foi lá andar na corda bamba. O homem comum, corajoso que só ele.

E lá estava ele, lá em cima, um pé depois do outro, braços abertos, quando foram se formando duas platéias de curiosos. Uma de cada lado, a corda bamba as separando. Como se o homem não andasse sobre uma corda, mas sobre um muro. As pessoas comentavam, apontavam, fotografavam.

O homem foi ficando com raiva de ser alvo de tantos olhos. Mas continuou se equilibrando, tentando se concentrar no seu propósito, com a esperança de que aquelas pessoas cansariam logo seus pescoços de tanto olhar para cima e iriam embora. Mas aconteceu que ele se cansou primeiro daquele circo. Declarou: Não agüento mais. Vou pular. Um oh! profundo de espanto subiu, emitido por todas as gargantas. E logo as pessoas começaram a escrever grandes cartazes. O homem comum pôde ler, nos cartazes da platéia da esquerda, “Mal”, e nos cartazes da platéia da direita, “Bem”. Em seguida, todos começaram a bradar: Pula! Pula! Pula!

O homem olhava para um lado, depois para o outro, e via todos aqueles rostos ávidos daquelas pessoas que, inexplicavelmente, o queriam em seus braços. O homem comum não sabia o que fazer. Ficou um tempo parado, um pé na frente do outro, braços abertos, com um forte desejo de pular. Mas resolveu, por enquanto, continuar caminhando na corda bamba, porque não sabia em qual dos lados tinha rede.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Sarau na casa da Sandra:
saraivada de versos,
soro na veia d’alma!

Só falta sarar.

Que será?

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Primeiro do ano

Num velho bar
coa vela
acesa
guardo
pra mar

Este poema foi publicado em primeira mão no Blog de 7 Cabeças no dia 11 de janeiro. Olha que honra! Foi escrito em mente durante o não muito emocionante passeio de barco, em Búzios, no dia em que meu poetamigo Fejones e eu perdemos o imperdível "luarau" no Leme. E foi ele mesmo, o Fejones, que me convidou para a publicação no blog dos sete poetas-cabeças.

Apesar dos pesares, foi muito boa a estada no Rio. Obrigada, tia Erlw, Tiago e Bianca por terem me tratado tão bem e me aturado! Luciane, muito obrigada pelo adorável reencontro! Obrigada, queridíssimos Leandro e Marla! Obrigada Fejones, pela tão boa companhia! Lindos de Araxá, foi muito bom conhecer vocês! Abraços aos meus desconhecidos, que também estavam naquela mesa na Lapa e que, provavelmente, nunca lerão isto aqui!

Poesia pra todos!

domingo, dezembro 24, 2006

Na mudança de ano...

Minha sugestão para 2006 foi esperança. Para 2007 é mudança. Mudança individual contínua influenciando naturalmente a mudança do outro.

Escolhi a palavra, porque algumas mudanças fizeram positivo o resultado do balanço do meu 2006:

- Assumi que eu como gente (e que como gente eu quero ser);
- Alguns amados ouviram do meu amor;
- Dei mais risadas, muitas vezes de mim mesma;
- Abracei amigos virtuais materializados;
- Fiz coisas que não devia;
- Brindei.

Próximo ano, quero fazer maior esta lista. Reforçando estas linhas. Claro, sob sua influência.

Para você, um 2007 de mudanças! Permita-se mudar. Entenda sua capacidade de mudar o outro.

Abraços de amor,


Elaine


Da filosofia de Heráclito: tudo segue a lei da constância da mudança. "Tudo flui, nada persiste, nem permanece o mesmo".

Da gravitação einsteniana: coisa muda espaço-tempo que diz a outra coisa como seguir.

Da música de Raulzito: melhor de tudo é ser a própria metamorfose.

segunda-feira, dezembro 18, 2006

sábado, dezembro 09, 2006

Limbo

Vendo o halo da lua
lamber o gargalo
lambuzo lábios,
legitimo elos,
ligas de amor
e os engulo, amor e eles.

Reflito no espelho real
o futuro delito
e pisando o pedal do meu freio
levanto-me e sigo
para longe deste lugar
para lá, o lugar onde estou.

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Poesiaça

Manguace-me, poeta das bandejas
entorpeça-me coa plenitude deste momento
[despretensioso e etéreo
Etílico
que prova, mais a mais, de modo empírico
que o rebento
em grupo é aéreo e lírico
traga o copo, traga a realidade
sua fuga
transubstancie ternura etílica, diga!
traguemos deste ar, deste espírito
delírios, ilusões, doideiras híbridas
tracemos nesse mapa o nosso vôo
incrivelmente lúcidos e lúdicos.
Vertamos as lágrimas
de alegria
que lavam a cidade da mundície
E essa dormência, poeta das bandejas

é o que em nós se almeja.



Dos 9 embriagados. Do inesquecível encontro do dia 26/11. Se não me engano só tem um verso meu aí...

domingo, dezembro 03, 2006

Da mecânica quântica

Na intimidade a coisa é outra.


Ei!!! Ninguém precisa saber física (eu também não sei...)! A frase é sobre a vida!

quarta-feira, novembro 29, 2006

Poema a 9 mãos

A chuva cessou
No peito alegre da menina
Triste
Mas as poças ficaram
Nas moças coisas ficam
Espelhando o novo céu que se abre
Espalhadas pelo chão, nesgas e nuvens
Que refletem mais que meu rosto
Desgosto, dizem, infiéis tormentas
Lamentos pelo caos que a tempestade
Deixou
Tantas rachaduras no asfalto
Tantas poças inspiradas pela chuva
Que o mundo escorrem
E escorrem...
Por dedos descuidados
Por vidas que se correm
Nos tempos que nos morrem
Pra chovermos noutras bandas
Umidade do mundo, por onde andas?



Eu diria 18 mãos. Ou mais... Sem contar os copos...
Os autores são aqueles indicados no post anterior.

segunda-feira, novembro 27, 2006

Sorte de nozes

Da "sorte de hoje" do Orkut: "Só prometa o que pode cumprir."

Da sorte de todos os dias: Só poeta o que pode exprimir!

Em homenagem ao 1º encontro dos blogueiros poetas: Czarina, Fejones, Jardim, Keila, Lasak, Marla "Vlap", Octávio, Tahkren, Sandra. Ah! Eu também estava lá!

E esse encontro ainda vai render muitos posts... E muitos outros encontros...

sábado, novembro 18, 2006

O físico que andou de bicicleta


Antes de ser físico,
o físico dizia anti-físico
andar em duas rodas


Tendo física aprendido,
o físico afirma
que é pouco desafio

E reconhece as causas físicas
das coisas esquisitas
(isso porque analisa tudo
sentindo no rosto a brisa)

Agora, o que faz bem
para o físico do físico
também faz bem para o físico
que faz bem em fazer o que não fazia



A Edson.