quinta-feira, dezembro 22, 2005

Abraços

Abraços virtuais aos amigos,

virtuais, reais, passantes, invisíveis, de sangue. Aos que me fizeram rir ou chorar, devanear ou refletir. A todos que, de alguma maneira, me deixaram um pouco mais gente ao longo desse ano.

E, nesses tempos terríveis, conservemos e cultivemos o tesouro da caixinha de Pandora.

Sucessos em 2006!

A cada um, um real abraço, com meu carinho e minha gratidão.

domingo, dezembro 11, 2005

D-i-f-e-r-e-n-ç-a-s


Esses humanos prismáticos
Querem a todo custo espalhar
E depois desagregar

Isso porque ignoram que
Um na frente d’outro
Faz uno o que apartado havia
Como tão cedo Isaac aprendia

“Faremos um domingo
Pra todo homem vivente?
Não. Só pra gente da gente!”

E Apolo ainda os presenteia...
Surge a deusa multicor!
As mentes são aquecidas,
Mas as idéias fortalecidas...

O belo são as diferenças!
E a igualdade.

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Leva jeito




Hoje usarei este espaço com um propósito um pouco diferente. Vou relatar um ocorrido que me deixou muito contente e que preciso dividir com os invisíveis.

Fui buscar uns trabalhos que entreguei no final do ano passado para participar do Projeto Nascente. Trata-se de uma espécie de concurso, com o objetivo de incentivar alunos da USP ligados às mais diversas formas de expressão artística: teatro, cinema, música, texto, etc. Então, entreguei alguns textos que chamei de poesias. Não foi difícil selecioná-los para o concurso, posto que eram praticamente os únicos que escrevera. Entreguei-os em três vias, como dizia uma das regras do edital. Cada via seria dada a um diferente avaliador.

Obviamente, não fui premiada. Mas posso dizer que recebi um prêmio de consolação ao receber de volta os trabalhos. Fiquei surpresa ao ver que em uma das cópias estavam esquecidas a lápis as seguintes palavras: “leva jeito”. Agora, o que é ruim nesta história, é que não vou conseguir parar tão cedo com este meu vício...

Três dos seis textos com que participei do concurso já foram publicados aqui: Amor de filha (de mãe), Homenagem à mais versátil parte de nossa máquina e Arte. Os outros três são Prazeres, Um quarto e Enfermidade Viciada, os quais publicarei futuramente.
A próxima postagem será D-i-f-e-r-e-n-ç-a-s, texto que está sendo editado.

Abraços fortes aos caríssimos invisíveis!

sexta-feira, novembro 18, 2005

Figuras

Idéia. Por Ellemos.

Cole figurinhas. Infalível!
Aconselhou-me o filho de João
Só assim todos poderão
Ver o que é invisível

Pus-me a meditar:
Que tipo de figura
O visitante procura?
Até pensei num Renoir

Figurinha repetida, minha cara!
Alertaram-me os botões
Milhões de idéias, bilhões!
Preciso de uma mais rara

Idéia louca, idéia boa, idéia genial!
Invoquei a mariposa alva e doce
Mas, como se o primeiro vôo fosse
Voou ao descanso final

Vieram perigosos delírios
Ali do pé da macieira
Menina, quanta besteira!
Hoje deleites, amanhã martírios...

Mais uma vez tentei
Encontrar com meu próprio esforço
A figura, ou um esboço.
Andei e pensei e falhei

E segui meu caminhar
Pelas pontes do pensamento
Mas o pífio pavimento
Impediu-me continuar

Ei, mas veja! Atenção!
Há aqui mais de uma dúzia
Que beleza! Quanta astúcia!
Não foi o trabalho vão

Clap, clap, clap! Façamos uma homenagem!
Mesuras!
Às figuras!

À linguagem!

...

Agora, caro invisível
Espero fiques satisfeito
Fiz o que pôde ser feito
Peço-te: sê flexível

quarta-feira, novembro 09, 2005

Diálogo no banheiro feminino da universidade

- O que você está achando das manifestações? Me empresta o batom?
- Qual?
- Um que combine com o símbolo de nossa campanha.
- Sabe que este tipo de coisa não é muito minha praia, né? Nossa, como meu cabelo está rebelde hoje!
- Olha, eu não sou sindicalizada e essas coisas, mas particularmente acho que devemos lutar pelos nossos direitos. Obrigada.
- De nada. Preciso fazer xixi. Não sei, sempre vira bagunça... E acredito haver outros meios de reivindicarmos.

Ouve-se a voz do militante sobre o palanque ambulante: “Parem com as aulas, professores! Pela educação deste país!”

- Definitivamente a causa é justa. Devemos nos unir para fazer um Brasil melhor. E como é fofo este militante!
- É, devo admitir que concordo com este seu ponto de vista.

- Hihihi...

sábado, outubro 29, 2005

O Cubo

Do centro de um cubo infinito oco
Ecoa um grito retumbante surdo
Som do fundo de uma existência
Hesitante, nula, vazia

Vozes roucas vêm dos seis
Sete vezes amplificadas
Plastificadas, terríveis, insanas
Insinuam a falsa alegria

Orgia de ondas vibrantes
Reverberam e no ponto se unem
Anulam o grito que chega às faces
Faz-se, assim, a solidão

Sólido permanece o cubo
Quando o grito emudece
Fenece o que já não havia

Ouvem-se somente os sinos.

(Abril de 2005)

Recados ao físico leitor:
1 - Qualquer semelhança com Física do Estado Sólido é mera coincidência. Mas se não fosse, qual seria a estrutura da rede cristalina? E o parâmetro de rede?
2 - Na dúvida, é licença poética!

Homenagem à mais versátil parte de nossa máquina

Cumprimenta, mede comprimento
Pede, oferece, aceita, dá
Arranca os pêlos, deixa nos pêlos
Ajuda, atrapalha
Faz, desmancha
Transpira, treme
Aquece, é fria
Afaga, toma o pirulito
Vê, fala, lambe, sente
Substitui o olho, substitui o coito
Lava a outra, a outra suja
Lava a roupa suja
Tira a vida, tira vida
Abre, fecha, solta, segura
Causa dor, anestesia
Amassa, modela, destrói, constrói
Quebra, conserta, corta, costura
Rasga, emenda, remenda
Empurra, puxa
Salva, valsa
Dança, canta, toca
Escreve, lê
Ofende, agrada
Atira, agarra
Esconde, mostra
Usa luva, abusa
Aponta, apronta
É de vaca, boba, pata
Paga, pega, peca, pica
Coça, soca, saca, mata
...
Fica no extremo braço, tem cinco dedos


(Este é antigo)

quinta-feira, setembro 01, 2005

Tragédia

Setenta quilômetros por hora. Vai voar. Vai voar. SShiiiflop! Pelo retrovisor, penas. Que pena! Matei um passarinho.

domingo, agosto 28, 2005

Pelo Ar

Com
Pressão
O ar cumpre sua nobre
Trans
Missão

Baquetas bendizem tambores e
Provocam
Batidas
Cardíacas
Ressonam

Cordas acordam acordes e
O corpo
Acende
A alma
Ascende

quinta-feira, agosto 18, 2005

Célebre cissura

Caro calo ocular,
Colossal colina
Que no ciliado campo cresceu

Foi meu estado caolho
Celebrado por um cocos;
Até colírio caiu

A córnea curvou-se
O cristalino culpou-se
E o caos copiou as cenas

Mas graças à cintilante cuchila
Convém com calor dizer-te:

Calei-te calázio!

terça-feira, agosto 16, 2005

Proteção

Oh querido quadrado duro de suaves quinas!
Continue a flutuar me protegendo
E me leve...
Leve...
Lambuzando-me com o mais doce algodão
Tão terno...

Eternamente...

terça-feira, agosto 09, 2005

Vida embaçada

- Você está sem foco.
- Como assim?
- Você precisa de um foco...
- Ahn... É mesmo.

Algumas semanas depois, meu olho direito vem avisar:
- Você está sem foco.
- Já sei, já sei. Tô vendo!

Resolvi visitar o oftalmologista.

- Você está com um terçol.

(Ter um sol!...)

- Não! Um terçol. T-e-r-ç-o-l!
- Sim, entendi. Mas e o foco?
- Sente-se aqui.

Ligou a Carta de Snellen. Não consegui tirar dez nem na primeira linha. Mas com o olho esquerdo fui muito bem! O esquerdo!
O médico examinou os dois olhos com uma lanterninha. Não bastasse o incômodo da luz, quase encostou a lanterna na retina.

O frustrante diagnóstico:
- Não sei a causa da falta de foco.

O previsto remédio:
- Um colírio. E volte semana que vem.

22 e alguns centavos?
- Foco no foco! Foco no foco!

domingo, julho 31, 2005

"...I'll find my rainbows end...
...then I'll know where the rivers flow"

River Song - D. Coverdale

terça-feira, julho 26, 2005

A princesinha

Ah, a princesinha do semáforo... Aquela dos cabelos pretos longos. Tomaram a lousa dela! Era, provavelmente, um desses anúncios de apartamento de alto padrão do qual ela usava as costas para desenhar seus sonhos.
Sexta passada parei no sinal vermelho e, por sorte, bem perto dela. Acompanhei sua mãozinha morena delineando o vestido que cobria um corpo sem rosto... De vez em quando ela olhava para trás, como se sentisse que estava sendo observada... Eu, é claro, não deixava que tivesse certeza. Desenhou os longos cabelos, como deveriam ser. E por último, coroou docemente sua princesa!
Hoje a lousa não estava mais lá. Mas a menina parecia continuar sonhando. Acho que nem mesmo as balas que ela costuma vender espantam sua meninice.
Se eu pudesse, lhe compraria uma coroa!

sábado, julho 23, 2005

Amor de filha (de mãe)

Vem, mãe, me aqueça sob suas asas perversas
E me deixe arrancar suas penas.
Ofereça-me seu seio para saciar minha sede
Com este leite ralo e podre.
Acaricie meus cabelos, mamãe,
Com estas mãos calejadas e opressoras.
Beije-me com seus lábios impuros e hipócritas,
Salive minha testa com este ácido altamente corrosivo.
Faça-me cócegas com seus cabelos embaraçados e insanos
E com eles envolva meu pescoço até me sufocar.
Abrace-me carinhosa e fortemente e quebre minhas costelas.

Vem, mãe, filha da mãe da sua filha!
Ensine-me o alfabeto, confunda-me com seus trocadilhos.
Enxugue meus suores e meus prazeres.
Abra as portas para mim, pois não alcanço a maçaneta;
Depois coloque as armadilhas.
Dê-me o carro dos sonhos e freie meus desejos.
Corte minhas unhas, arranhe meus sentimentos.
Lave meus ouvidos para que eu escute com clareza
Suas lindas palavras de afeto e todos os palavrões e obscenidades.
Peça que eu viva feliz e mate-me com a vida que me dá.

Venha, minha querida mamãe,
Sinta no seu traseiro toda minha força
Representada aqui pelos meus pés.

Amo você, mamãe!


(07/09/2001)

Arte

Traço um traço. Faço um risco.
Risco um muro. O muro eu picho. Tinta e cera.
Dois riscos, uma via. Ando e ando e faço uma placa: Rua sem saída.
Abro um túnel, um ponto de luz. Desenho a tomada. Puxo o cabo.
Esboço a lanterna. Tiro as pilhas.
Faço um rio e uma ponte. Corto com um serrote.
Desenho um carro voador. Sobrevôo o longo do rio. Quebro as asas.
Faço a bóia. Furo-a. Seco a água.
Desenho a ampulheta. Toda a areia escoa.
Um deserto. Um camelo que empaca.
Sigo o sol. Faço a noite.
Um ano no oceano. Capitão, perco o leme.
Pego um remo e a bússola. Construo a pedra que leva o remo.
Entorto a agulha. Mal-me-quer, bem-me-quer.
Bem-me-quer, mal-me-quer com a Rosa-dos-Ventos.
No mesmo jardim planto uma árvore. Desenho notas musicais.
No ninho canta um passarinho. Faço um revólver. Assassino a caixa acústica.
Com a borracha quebro o muro.

E esta folha, se não rasgo, vem a traça e traça.

(28/07/2001)