sábado, outubro 29, 2005

O Cubo

Do centro de um cubo infinito oco
Ecoa um grito retumbante surdo
Som do fundo de uma existência
Hesitante, nula, vazia

Vozes roucas vêm dos seis
Sete vezes amplificadas
Plastificadas, terríveis, insanas
Insinuam a falsa alegria

Orgia de ondas vibrantes
Reverberam e no ponto se unem
Anulam o grito que chega às faces
Faz-se, assim, a solidão

Sólido permanece o cubo
Quando o grito emudece
Fenece o que já não havia

Ouvem-se somente os sinos.

(Abril de 2005)

Recados ao físico leitor:
1 - Qualquer semelhança com Física do Estado Sólido é mera coincidência. Mas se não fosse, qual seria a estrutura da rede cristalina? E o parâmetro de rede?
2 - Na dúvida, é licença poética!

Homenagem à mais versátil parte de nossa máquina

Cumprimenta, mede comprimento
Pede, oferece, aceita, dá
Arranca os pêlos, deixa nos pêlos
Ajuda, atrapalha
Faz, desmancha
Transpira, treme
Aquece, é fria
Afaga, toma o pirulito
Vê, fala, lambe, sente
Substitui o olho, substitui o coito
Lava a outra, a outra suja
Lava a roupa suja
Tira a vida, tira vida
Abre, fecha, solta, segura
Causa dor, anestesia
Amassa, modela, destrói, constrói
Quebra, conserta, corta, costura
Rasga, emenda, remenda
Empurra, puxa
Salva, valsa
Dança, canta, toca
Escreve, lê
Ofende, agrada
Atira, agarra
Esconde, mostra
Usa luva, abusa
Aponta, apronta
É de vaca, boba, pata
Paga, pega, peca, pica
Coça, soca, saca, mata
...
Fica no extremo braço, tem cinco dedos


(Este é antigo)