segunda-feira, agosto 27, 2007

René Magritte, La Clef des Songes, 1930.

Para que sonhar com mais amar
no azul do mar infinito
se os sucessivos desconvidados dias
as águas vêm evaporar?

Para que sonhar com o livro aberto
na página querida
se o implacável verdadeiro vento
à sua maneira o folheia?

Para que sonhar com as crianças
brincando infantis nos campos gramados
se o inexorável impiedoso tempo
as traz agora maduras?

Sonhar é vão...
Porque entre sonho e verdade há um
trevoso intransponível vão.
Porque sonhos não são e nunca serão.
Porque sonhos são idéias e
idéias não descem ao chão.

Só o que há é realidade
e sonhos não há.
Então, para que sonhar e sonhar e sonhar
e doer por esquecer de viver o que há?

De esta noite em diante
sonharei apenas com um sonho doce rebelde
que contrarie a natureza dos sonhos,
que irrompa no mundo rompendo
o grosso tecido separador dos espaços,
que não mais queira ser sonho e seja.
E assim, faça que vivam infâncias, histórias, amores.



E, veja, papai sempre dizia:
"Tens que ter os pés no chão, minha filha!"
Ave Santa Teimosia!