segunda-feira, agosto 24, 2009

Menina

A infância adormeceu no colo da mulher,
nos braços da menina que se deitou
no topo do morro de terra vermelha
ao lado de sua boneca preferida de roupinha rasgada.
O coraçãozinho cresceu, agora cabe tanta coisa
onde só cabia pureza, onde o palpitar acelerado
significava cansaço de brincar de pega-pega.
Agora cabe tanta coisa, tanta coisa que não é brincadeira.
Os olhinhos que brilhavam curiosos e choravam quando o corpo
doía de cair de bicicleta, brilham pouco menos e choram mais,
mas de outras dores.
O frio da maturidade chegou tão de repente pedindo uma sopa.
Há pedacinhos de infância escondidos na sopa, ela descobre.
E de vez em quando, cuidando de não estragar o batom,
ainda tira da língua algum fiapo das pelúcias dos ursinhos.
E de vez em quando, sozinha e descalça,
percebe-se fazendo trancinhas no cabelo da boneca.

3 comentários:

Jacinta Dantas disse...

É menina,
de menina-mulher-menina, vamos nos construindo, desconstruindo na dor e encontrando nossa essência de Ser mulher. Lindo texto.
Abração

Elcio Tuiribepi disse...

Oi Elaine, não é que estou escrevendo algo muito parecido com este seu poema...falando da inocência que a vida leva, da pureza que se perde com o tempo, com a relidade nua e crua da vida...breve vou postar...Bonita a forma como conseguiu ir costurando as palavras e os sentimentos. Uma ótima quarta para você...um abraço na alma...

ítalo puccini disse...

que coisa mais linda!

tadinha da menina... coração cresceu, espaço teve, e a dor veio.

seus escritos me encantam.