sábado, outubro 29, 2005

O Cubo

Do centro de um cubo infinito oco
Ecoa um grito retumbante surdo
Som do fundo de uma existência
Hesitante, nula, vazia

Vozes roucas vêm dos seis
Sete vezes amplificadas
Plastificadas, terríveis, insanas
Insinuam a falsa alegria

Orgia de ondas vibrantes
Reverberam e no ponto se unem
Anulam o grito que chega às faces
Faz-se, assim, a solidão

Sólido permanece o cubo
Quando o grito emudece
Fenece o que já não havia

Ouvem-se somente os sinos.

(Abril de 2005)

Recados ao físico leitor:
1 - Qualquer semelhança com Física do Estado Sólido é mera coincidência. Mas se não fosse, qual seria a estrutura da rede cristalina? E o parâmetro de rede?
2 - Na dúvida, é licença poética!

2 comentários:

Anônimo disse...

Essa eu não podia deixar de comentar! Gostei muito do poema, me fez pensar um pouco na nossa existência, quanto ao parâmetro de rede de um cubo infinito eu não sei, mas se existir podemos afimar com certeza que existe um único ponto de rede em seu interior.
Beijos.

Daniel disse...

Se disser que entendi todo o poema estaria mentindo, o que não lhe tira a beleza.
Meu destaque vai parte a parte final: Seria a solidão sólida ou oca? Primeiro oca, talvez, para então depois encher-se de conhecimento e reverberar ondas que um dia fenecerão ao calar-se do desespero agoniante do fim... ou do começo?
Afinal, o badalar dos sinos possui o símbolo da espiritualidade, ou ao menos, do mistério infinito!

Muito bom, parabéns!