terça-feira, março 28, 2006

Eu como gente

Eu como gente
Crua mesmo
Verdade
Crua e nua

Que arrota
Que transpira
Que escarra
Que expele

Pele e carne
Chupo o osso
Duro
Osso de roer

Que esvazia
Eu me esbaldo
Que alivia
E faço um caldo

Eu bebo e como
E como
A essência e tudo
Essencial

E saboreio as entranhas
Estranhas?
Tudo que há de bom!
E vivo...

Eu como
Gente
Como sim
Como assim

Como.
Nham...
Assim.

sábado, março 18, 2006

Como as sombras são



A reflexão de uma sombra - por Ellemos


Queria saber por que as sombras nos saem dos calcanhares. E por que elas não nos saem dos calcanhares. Indesejadas como as sombras são. De um lado ou de outro, menores ou maiores, inteiras ou quebradas por quinas, mais ou menos nítidas. Não importa. Estão sempre conosco.

O problema não consiste apenas em sabermos que estamos sempre sendo seguidos. O pior de tudo é que, às vezes, as sombras querem nos atrapalhar. Às vezes tentam nos confundir. Traiçoeiras como as sombras são. Traiçoeiras sim, porque elas são porque somos. Dependem de nós. Até na forma. E sabem disso.

De qualquer maneira, parece melhor tentar não temê-las, mas quem sabe, ignorá-las. Aprender a conviver. Porque este não é o tipo de coisa que depende do nosso querer e do nosso lutar. Elas estão aqui. E ponto.

Dependem de nós. São escuras, achatadas, estão sempre por baixo. Saem de nossos calcanhares. Não, não devemos temê-las. Definitivamente. Tenhamos compaixão.

Pensando bem, há um jeito de eliminá-las. As sombras se vão quando está escuro. Sim, as sombras são porque temos luz.

Não olhe agora. Você não está só. E nem adianta correr. Sua sombra seguirá você. Se houver luz no seu caminho.

terça-feira, março 07, 2006

Antes do Encontro

Espera - Mireya Juárez


Olha


Bem
Faltam
Dois
Para
Dez
Espero
Vem
Conhecer
Te
Quero
Bem

quarta-feira, março 01, 2006

Bananas como fim


Há dias minha coluna está me matando. Minha preguiça gostou da brincadeira e resolveu ajudar. Todos os dias deixava para o dia seguinte a idéia dos exercícios físicos. Era exatamente isso: adiava a idéia.

Hoje acordei cedo. Olhei para as bananas na fruteira, hesitei, ignorei. Fiquei com meu leitinho. Arrastando a preguiça, consegui descer. Ainda não tinham soado as sete badaladas e quatro pessoas já suavam. Com que porquê estariam aquelas pessoas malhando em pleno amanhecer de uma quarta-feira de cinzas? Saúde ou beleza? Talvez ambos. Desejei uns quatro bons-dias com toda a minha educação e encarei os saudosos aparelhos de ginástica que já nem lembrava como usar. Se é que um dia soube.

Alonguei, pedalei, puxei... Fui para a esteira. Comecei lentamente e fui acelerando o passo ao longo da caminhada. Caminhei pouco mais de 1km sentindo-me uma imbecil. O que estaria sentindo o rapaz da esteira ao lado que corria havia mais de 20 minutos? Que sensação estranha! Andávamos, corríamos, andávamos em direção à parede ou ao espelho e não chegávamos nem a este nem àquela. Olhando com nenhuma atenção para a TV ligada.

É para mim, a esteira, uma metáfora da vida. Pelo menos da minha. Talvez de muita gente. Faltam paisagens. Falta um fim. Saúde ou beleza? Um fim.

Lembro-me agora da velhinha que apareceu ontem no noticiário. Cento e vinte e seis anos! E uma possibilidade se me apresenta. A possibilidade de viver ainda cem anos. (Mas que não sejam de solidão). Cento e vinte e seis anos! Aposto que aquela velhinha nunca subiu numa esteira de academia. Seu segredo? Uma ironia. Bananas! Todos os dias. Como meio.

Saúde! Beleza! Um fim! Bananas, que sejam. Para um século de caminhada.