O homem, comum que só ele, resolveu experimentar de equilibrista. E foi lá andar na corda bamba. O homem comum, corajoso que só ele.
E lá estava ele, lá em cima, um pé depois do outro, braços abertos, quando foram se formando duas platéias de curiosos. Uma de cada lado, a corda bamba as separando. Como se o homem não andasse sobre uma corda, mas sobre um muro. As pessoas comentavam, apontavam, fotografavam.
O homem foi ficando com raiva de ser alvo de tantos olhos. Mas continuou se equilibrando, tentando se concentrar no seu propósito, com a esperança de que aquelas pessoas cansariam logo seus pescoços de tanto olhar para cima e iriam embora. Mas aconteceu que ele se cansou primeiro daquele circo. Declarou: Não agüento mais. Vou pular. Um oh! profundo de espanto subiu, emitido por todas as gargantas. E logo as pessoas começaram a escrever grandes cartazes. O homem comum pôde ler, nos cartazes da platéia da esquerda, “Mal”, e nos cartazes da platéia da direita, “Bem”. Em seguida, todos começaram a bradar: Pula! Pula! Pula!
O homem olhava para um lado, depois para o outro, e via todos aqueles rostos ávidos daquelas pessoas que, inexplicavelmente, o queriam em seus braços. O homem comum não sabia o que fazer. Ficou um tempo parado, um pé na frente do outro, braços abertos, com um forte desejo de pular. Mas resolveu, por enquanto, continuar caminhando na corda bamba, porque não sabia em qual dos lados tinha rede.